domingo, 30 de setembro de 2012

Restauração - Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Prados


Olá a todos!

Hoje vou falar sobre um assunto que geralmente é pouco explorado nas faculdades de arquitetura, mas que é de grande importância na formação de arquitetos e urbanistas: o restauro.

No último ano de graduação cursei uma disciplina chamada Técnicas de Preservação e Restauro e, graças a ela, tive contato com essas atividades, podendo assim apreender consideravelmente as dificuldades, a importância e a beleza dos trabalhos que as envolvem.

Em março de 2011 visitei a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Prados, na cidade de Prados/MG, onde estava sendo realizada a restauração da nave da mesma pela empresa ANIMA – Restauração, Conservação e Artes LTDA e acompanhei parte do trabalho que era desenvolvido ali.


  
Pra vocês terem uma ideia, essa igreja é uma das grandes responsáveis pelo intenso fluxo turístico na cidade de Prados, pois se trata de uma obra arquitetônica de grande valor. O início de sua construção data das duas primeiras décadas do século XVIII, mas foi terminada externamente apenas em 1774 (tombada pelo IPHAN em 1995). A fachada com detalhes em pedra é um exemplo da transição da arquitetura portuguesa para o barroco mineiro e o seu interior é de estilo rococó.



As obras de restauro tiveram início em 2003 e continuam até hoje. No dia em que foi realizada a visita à matriz, estava sendo feita a restauração do retábulo lateral e as etapas desenvolvidas nesse trabalho foram:



Limpeza: Retirada de poeira e sujidades superficiais.
Prospecção: A prospecção consiste na abertura de janelas e estudo estratigráfico para se encontrar nas superfícies a pintura original. A abertura das janelas se faz com a demarcação de pequenos quadrados (2,0 x 2,0 cm) na superfície que se quer restaurar e depois com o auxílio de produtos químicos são feitos testes para descobrir quantas camadas de re-pintura existem naquela superfície e qual o melhor produto a ser utilizado para remover essas camadas. Existem produtos variados e o uso de um ou de outro dependerá dos testes químicos, que consistem na aplicação dos produtos nas janelas demarcadas e na espera de um tempo cronometrado para verificar a eficácia do produto.

Remoção de re-pintura: Depois de selecionado o produto mais adequado para o trabalho a pintura é removida com o auxílio de um bisturi ou uma espátula. Muitas vezes apenas o ar quente é suficiente para a remoção das camadas de tinta. Todo esse processo é obrigatoriamente registrado com fotografias para verificação do IPHAN.

Higienização: Imunização do material com produtos especificados pelo IPHAN.
Consolidação: Nos locais danificados pelos cupins são abertas galerias de forma a expor as partes que foram consumidas, essas partes são preenchidas com uma mistura de pó de serra e cola, utiliza-se então o gesso crê para o nivelamento da superfície, que depois é lixada.
Reintegração: Retoques pontuais da pintura.
                Existem algumas técnicas para a realização dos retoques:
Tratejo: retoque feito com pinceladas na direção da pintura original. As pinceladas são suaves e pequenas, de forma que é possível, por um especialista, a diferenciação do que foi restaurado para o que é original.

Pontilhismo: retoque feito apenas com pequenos pontos de tinta onde houve a perda do original ao longo dos anos.

Dourado: nas superfícies que foram douradas com folhas de ouro no passado não é indicado pelo IPHAN que se faça esse processo novamente, pois elas se tornariam muito mais brilhantes do que as originais. É indicado para esses casos um aglutinante dourado que se assemelha muito com a antiga cor.

Como vocês podem ver, trata-se de processos lentos e delicados, que envolvem pesquisa e estudo, além de conhecimento específico de técnicas e materiais a serem empregados. E o resultado é fantástico!

Boa semana a todos! Até logo!

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