Olá a todos!
Hoje vou falar sobre um assunto que geralmente é
pouco explorado nas faculdades de arquitetura, mas que é de grande importância
na formação de arquitetos e urbanistas: o restauro.
No último ano de graduação cursei uma disciplina
chamada Técnicas de Preservação e Restauro e, graças a ela, tive contato com
essas atividades, podendo assim apreender consideravelmente as dificuldades, a
importância e a beleza dos trabalhos que as envolvem.
Em março de 2011 visitei a Igreja Matriz de Nossa
Senhora da Conceição de Prados, na cidade de Prados/MG, onde estava sendo
realizada a restauração da nave da mesma pela empresa ANIMA – Restauração,
Conservação e Artes LTDA e acompanhei parte do trabalho que era desenvolvido
ali.
Pra vocês terem uma ideia, essa igreja é uma das
grandes responsáveis pelo intenso fluxo turístico na cidade de Prados, pois se
trata de uma obra arquitetônica de grande valor. O início de sua construção
data das duas primeiras décadas do século XVIII, mas foi terminada externamente
apenas em 1774 (tombada pelo IPHAN em 1995). A fachada com detalhes em pedra é
um exemplo da transição da arquitetura portuguesa para o barroco mineiro e o
seu interior é de estilo rococó.
As obras de restauro tiveram início em 2003 e
continuam até hoje. No dia em que foi realizada a visita à matriz, estava sendo
feita a restauração do retábulo lateral e as etapas desenvolvidas nesse
trabalho foram:
Limpeza:
Retirada de poeira e sujidades superficiais.
Prospecção:
A prospecção consiste na abertura de janelas e estudo estratigráfico para se
encontrar nas superfícies a pintura original. A abertura das janelas se faz com
a demarcação de pequenos quadrados (2,0 x 2,0 cm) na superfície que se quer
restaurar e depois com o auxílio de produtos químicos são feitos testes para
descobrir quantas camadas de re-pintura existem naquela superfície e qual o
melhor produto a ser utilizado para remover essas camadas. Existem produtos
variados e o uso de um ou de outro dependerá dos testes químicos, que consistem
na aplicação dos produtos nas janelas demarcadas e na espera de um tempo
cronometrado para verificar a eficácia do produto.
Remoção de
re-pintura: Depois de selecionado o produto mais adequado para o trabalho a
pintura é removida com o auxílio de um bisturi ou uma espátula. Muitas vezes
apenas o ar quente é suficiente para a remoção das camadas de tinta. Todo esse
processo é obrigatoriamente registrado com fotografias para verificação do
IPHAN.
Higienização:
Imunização do material com produtos especificados pelo IPHAN.
Consolidação:
Nos locais danificados pelos cupins são abertas galerias de forma a expor as
partes que foram consumidas, essas partes são preenchidas com uma mistura de pó
de serra e cola, utiliza-se então o gesso crê para o nivelamento da superfície,
que depois é lixada.
Reintegração:
Retoques pontuais da pintura.
Existem
algumas técnicas para a realização dos retoques:
Tratejo:
retoque feito com pinceladas na direção da pintura original. As pinceladas são
suaves e pequenas, de forma que é possível, por um especialista, a
diferenciação do que foi restaurado para o que é original.
Pontilhismo:
retoque feito apenas com pequenos pontos de tinta onde houve a perda do
original ao longo dos anos.
Dourado:
nas superfícies que foram douradas com folhas de ouro no passado não é indicado
pelo IPHAN que se faça esse processo novamente, pois elas se tornariam muito
mais brilhantes do que as originais. É indicado para esses casos um aglutinante
dourado que se assemelha muito com a antiga cor.
Como vocês podem ver, trata-se de processos lentos e
delicados, que envolvem pesquisa e estudo, além de conhecimento específico de técnicas
e materiais a serem empregados. E o resultado é fantástico!
Boa semana a todos! Até logo!
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